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31 de July de 2024

Como melhorar a inclusão LGBTQIA+ no local de trabalho

Uma realidade de exclusão, mas que se transforma diariamente

Em 2015, as Nações Unidas estabeleceram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um conjunto de metas globais para erradicar a pobreza e a desigualdade até 2030. Com o princípio de "não deixar ninguém para trás", os ODS reconhecem que a verdadeira prosperidade só pode ser alcançada quando todos os indivíduos, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, tiverem igualdade de oportunidades e direitos.

 

No entanto, a comunidade LGBTQIA+ tem sido historicamente marginalizada e excluída de iniciativas de desenvolvimento, resultando em desigualdades persistentes em áreas como renda, saúde e educação. Para alcançar os ODS e construir um futuro mais justo e equitativo, é fundamental promover a inclusão LGBTI+ em todas as esferas da sociedade, incluindo o ambiente de trabalho.

 

Uma realidade de exclusão

 

Se você está lendo esse texto, provavelmente sabe como é importante conseguir a inclusão LGBTQIA+ da maneira certa. Mas é muito difícil abordar um tema tão relevante sem conhecer onde estamos hoje.

 

Felizmente, adoramos um bom conjunto de dados. Quando se trata de algo que pode ser tão sensível como a inclusão dessa comunidade, não há espaço para suposições — e nem preconceitos. Por isso, reunimos algumas estatísticas importantes que lançam alguma luz sobre a realidade da inclusão LGBTQIA+.

 

Fato é que, apesar dos avanços legais no Brasil, como a criminalização da homofobia, em 2019, a comunidade LGBTQIA+ ainda enfrenta um cenário de exclusão e discriminação no mercado de trabalho. Estima-se que existam cerca de 20 milhões de pessoas LGBTQIA+ no país, de acordo com a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), mas muitas delas são privadas de oportunidades por conta de preconceito e discriminação.

 

Pesquisas como o "Demitindo Preconceitos" da Santo Caos evidenciam que 38% das empresas demonstram restrições à contratação de pessoas homossexuais, e 40% dos profissionais LGBTQIA+ já sofreram discriminação no ambiente corporativo. O medo e a insegurança levam 61% dos profissionais a esconderem sua orientação sexual ou identidade de gênero no trabalho, segundo o Center for Talent Innovation.

 

A situação é ainda mais crítica para pessoas trans, que enfrentam dificuldades ainda maiores de acesso ao mercado de trabalho formal. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), 90% dessa população recorre à prostituição como única alternativa de subsistência, evidenciando a urgência de ações para garantir oportunidades dignas e seguras para todas as pessoas LGBTQIA+.

 

Um longo caminho a percorrer...

 

Um levantamento promovido pelo Instituto Ethos sobre as 500 maiores empresas do Brasil revelou outra triste realidade. Apenas 19% dessas organizações possuem políticas de Diversidade e Inclusão (D&I) voltadas para a comunidade LGBTQIA+, e somente 8,5% se preocupam em eliminar o preconceito nos processos de contratação.

 

A consultoria Great Place To Work (GPTW) também divulgou outro obstáculo: a falta de oportunidades para pessoas LGBTQIAP+ ascenderem profissionalmente. A pesquisa demonstrou que o topo da pirâmide corporativa é praticamente inacessível. Nos cargos de liderança, apenas 8% são LGBTQIAP+, ao passo que os cargos de presidência, o percentual é ainda menor: 6%. 

 

Além disso, pessoas LGBTI+ são as que mais escutam piadas e comentários preconceituosos, com 24% afirmando ter presenciado isso com frequência. Esse grupo, que valoriza trabalhar em um ambiente inclusivo (72%), é também o que mais enfrenta situações de discriminação, assédio ou intimidação, cerca de 20%.

 

O estudo Proud at Work do LinkedIn reforça essa realidade, mostrando que o medo de sofrer represálias é um dos principais motivos para que muitos profissionais LGBTQIAP+ permaneçam no "armário corporativo". A pesquisa também destaca a dificuldade que essas pessoas têm em se sentirem integradas em conversas cotidianas, já que a heteronormatividade impera no ambiente de trabalho.

 

Tais dados permitem concluir que a diversidade por si só não cria inclusão; um ambiente inclusivo deve ser intencionalmente concebido, nutrido e apoiado. Mas como fazer isso?

 

Além do arco-íris

 

É fácil para empresas e líderes demonstrarem apoio à comunidade LGBTQIAP+ apenas com gestos simbólicos, como postar a bandeira do arco-íris em seus perfis de redes sociais durante o Mês do Orgulho. Comprometer-se com uma estratégia de inclusão real pressupõe ir além do superficial e adotar medidas concretas para combater a discriminação e garantir a inclusão durante todo o ano.

 

Então, vamos falar sobre algumas soluções viáveis ​​para promover ambientes de trabalho mais inclusivos para colaboradores LGBTQIAP+. Para isso, o relatório Work Report da Stonewall recomenda como fundamentais as etapas que seguem:

 

  1. Desenvolva políticas claras: Estabeleça políticas explícitas de tolerância zero contra a discriminação, assédio e homofobia, com repercussões claras tanto para funcionários como para clientes. Nesse sentido, é importante ter canais de denúncia seguros e acessíveis para que os colaboradores se sintam à vontade para relatar qualquer problema.

 

Relevante também criar uma infraestrutura que permita às pessoas serem quem realmente são. A Souza Cruz, por exemplo, oferece benefícios como licença-maternidade para casais homoafetivos, ao passo que o Banco do Brasil estendeu aos funcionários LGBTQIAP+ o direito de incluir seus parceiros no plano de saúde da empresa, bem como permite que colaboradores trans utilizassem seus nomes sociais.

 

  1. Estabeleça indicadores: Adotar uma abordagem baseada em dados ajudará a identificar áreas de melhoria, embasar suas decisões e mensurar o progresso. Deve-se levar em conta que questões sobre orientação sexual ou identidade de gênero devem ser coletadas de forma anônima, confidencial e totalmente voluntária, pois são consideradas altamente sensíveis pela Lei Geral de Proteção de Dados.

 

  1. Atraia e invista em talentos LGBTQIA+: Isso é essencial para construir um ambiente de trabalho verdadeiramente diverso e inclusivo. Para tanto, é preciso ir além do discurso e promover ações concretas que demonstrem o compromisso da empresa com a igualdade de oportunidades. Nesse sentido, ofereça programas de desenvolvimento profissional, como mentoria, coaching etc., bem como incentive a criação de grupos de afinidade e redes de apoio para funcionários LGBTQIA+, proporcionando um espaço seguro para troca de experiências e fortalecimento da comunidade.

 

Vale mencionar, ainda, que criar uma cultura organizacional verdadeiramente engajada representa um benefício direto também para as empresas. Um estudo feito pela EY relevou que, para uma empresa média listada na Fortune 500, melhorar a retenção de funcionários LGBTQIA+ em apenas 5% poderia poupar mais de US$ 4,2 milhões apenas em custos de rotatividade.

 

  1. Crie ações de conscientização e educação sobre diversidade: A diversidade enriquece, a inclusão potencializa. Assim, não basta apenas contratar pessoas de diferentes origens e vivências; é fundamental que todos na empresa — desde colaboradores até gestores —, estejam preparados para acolher e integrar essas diferenças.

 

Portanto, você não pode simplesmente se sentar e esperar para enfrentar desafios ou comportamentos discriminatórios quando isso acontecer. Antecipe-se abordando abertamente temas como orientação sexual, identidade de gênero e comunicação inclusiva. Promova atividades que incentivem a empatia e o respeito, como workshops, palestras e cursos.

 

  1. Respeite a individualidade de cada pessoa: Para algumas pessoas, rótulos como gay, trans, bi etc. são importantes e empoderadores. Para outras, no entanto, podem ser limitantes ou desconfortáveis. Sendo assim, deixe as pessoas escolherem. Se alguém quiser se assumir como trans ou gay, por exemplo, ofereça-lhe apoio. Caso contrário, deixe-as livres para não se colocarem em caixas. Respeite a escolha daqueles que preferem não se definir por rótulos. A liberdade de autoidentificação é fundamental para a construção de um ambiente verdadeiramente inclusivo.

 

  1. Amplie seu impacto: Impulsione a inclusão em toda a sua cadeia de valor, estabelecendo diretrizes claras para fornecedores, parceiros e demais stakeholders, incentivando o desenvolvimento econômico e social da comunidade LGBTQIA+ em todas as etapas do seu negócio.

 

Nesse sentido, seja transparente com a sociedade e outras empresas sobre suas ações e metas em relação à diversidade e inclusão. Logo, não promova o chamado “diversity washing” (propaganda enganosa sobre diversidade) e seja honesto sobre seus resultados e desafios. Inspire outras organizações e comunidades!

 

Sim, podemos ser melhores

 

A busca por um local de trabalho verdadeiramente inclusivo e a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável compartilham um desafio comum: a necessidade de reconhecer e combater a marginalização da comunidade LGBTQIA+.

 

A falta de reconhecimento de suas necessidades específicas em muitos locais de trabalho, perpetua um sistema que ignora as experiências e os desafios únicos enfrentados por essas pessoas. Para alcançar um futuro mais justo e equitativo, tanto no ambiente de trabalho quanto em escala global, é fundamental aprender com os erros do passado e garantir que ninguém seja deixado para trás.

 

A diversidade e inclusão exigem um olhar holístico, reconhecendo as pessoas em sua complexidade e os sistemas que as oprimem. A inclusão de pessoas LGBTQ+ não é apenas uma questão de justiça social, mas também um imperativo para o sucesso dos negócios e para o desenvolvimento sustentável.

 

Vamos trabalhar juntos por ambientes corporativos inclusivos e acolhedores, com uma força de trabalho multicultural e orientada à solução de desafios. Neste Mês do Orgulho, o Grupo Pact Insights renova seu compromisso com a diversidade e a construção de uma sociedade inclusiva e livre de preconceitos.